Jonathan
Salles sabia muito bem que as portuguesas adoravam homens barbudos
cheios de um
charme especial. Contudo, Jonathan não sabia o que era amar. Apreciar mulheres
bonitas passando na rua, beijar mulheres e despertar desejos, brigar com a
sedução corpo a corpo, nada disso pode ser comparado com o significado puro do
amor.
Amor, palavra
tão nobre, tão forte que muitas pessoas não conseguem entender seu significado.
Posso ficar minutos, horas, dias, meses, anos, uma vida inteira sem conseguir
explicar em palavras o que é o amor. Talvez, se eu fosse mais gentil, talvez se
eu fosse mais altruísta, se eu fosse o que não sou talvez entrasse para o
remoto time do mundo que encontra no coração a verdadeira beleza, que faz da
face apenas um instrumento de carinho, e não a comemoração de um troféu.
Num dia
chuvoso na capital da Ilha da Madeira, Jonathan caminhava pela Rua dos Santos,
carregando a sua mala de trabalho e voltando para casa com a maior animação por
ter cumprido mais um dever pra sociedade. Chegando a casa, Jonathan recebeu a
visita do seu amigo Marinho, era sexta-feira e Marinho estava louco para sair e
curtir os gostos da vida.
-Vamos para o Don Juan, Jonathan. Tenho
certeza que vamos nos divertir- disse ele, depois de perceber que o amigo não
estava nem um pouco interessado, colocando um pouco de vinho tinto em dois
cálices na mesa, ele insistiu para tentar animá-lo- Somos dois adultos
solteiros, prometo que não vamos ficar muito tempo.
- Suas promessas
nunca valeram muito- disse Jonathan aos risos- Gostaria de descobrir quando
você esta realmente falando a verdade, também gostaria de saber a verdade nos
momentos em que garotas disseram que me amavam, porém eram palavras vazias, sem
magia tampouco bondade.
- Pode
acreditar em mim, caro amigo- disse ele com as mãos juntas, parecendo que
estava fazendo uma reza- Preciso de sua companhia, preciso ir para o Don Juan e
satisfazer minhas vontades de homem, nós dois precisamos, você sabe muito bem
do que eu estou falando...
Depois de
colocar um copo de vinho na mesa para os dois, Jonathan ficou pensativo,
olhando para a janela da sala, ficava admirado com a beleza da chuva que
despertava tranquilidade na alma das pessoas.
-Ok, você me
convenceu. Só espero não me arrepender dessa decisão.
Vinte minutos depois os dois amigos saíram
pela noite chuvosa, pegaram um táxi próximo à praça central e foram para o Don
Juan, que ficava nas redondezas da capital da Ilha.
Sem conversarem, os dois amigos ficaram a maior
parte do tempo imaginando as inúmeras possibilidades sobre o futuro que os
aguardava no Don Juan. Não era a primeira vez que os dois frequentavam esse
tipo de lugar, e provavelmente não seria a última. Porém, cada vez que eles
estavam a caminho do Don Juan, uma nova perspectiva sobre um acontecimento novo
levava medo e excitação para o coração dos jovens adultos.
Quando o táxi
parou em frente a um corredor que terminava numa porta com luzes vermelhas,
Jonathan e Marinho sabiam que estavam muito próximos de acontecimentos que
levariam num primeiro momento a puro prazer, e em um segundo momento, a uma
grande decepção.
- Não sei mais
se quero entrar- disse Jonathan.
- Você não
pode me abandonar agora- disse Marinho- Pela nossa amizade, é a última vez que
eu te peço isso, ninguém ficará sabendo, eu prometo!
Jonathan
percebeu que Marinho estava desesperado para entrar no local, além de ter feito
mais uma promessa em que o futuro ficaria encarregado de quebrar, suas mãos
tremiam de desejo só de pensar naquelas curvas e naqueles beijos.
-Boa aventura
pra vocês- disse o motorista do táxi- Ouvi dizer que os donos desse local quase
nunca aparecem, deve ser horrível bancar tanta imundice no mundo, somente para
ganhar dinheiro.
Os dois saíram
do carro e caminharam lentamente até a porta vermelha coberta de sedução, com
luzes vermelhas que chamavam a atenção de qualquer pessoa que passasse pelas
redondezas naquela hora.
Assim que
Jonathan abriu a porta, uma leve música tocou os seus ouvidos, os dois amigos
entraram no local, e seus olhos visualizavam todo aquele jogo de prazer
ilustrado naquelas garotas dançando seminuas, naquelas bundas que rebolavam em
frente aos homens, naquele batom vermelho de paixão, naquelas calcinhas pretas
cheias de segredos impuros. Marinho logo foi de encontro a três garotas que
estavam sentadas num sofá azul com as pernas cruzadas, uma delas tinha os seios
à mostra, já as outras duas não tinham a parte de baixo, estavam nuas se não
fosse pela blusa que cobria os seios.
Outras garotas
jogavam baralho, e a cada perda tiravam uma peça de roupa, outras beijavam as
companheiras como uma forma de seduzir os clientes. O cômodo terminava com uma
escada ao fundo que levava aos quartos da alegria.
Quando
Jonathan vislumbrou tudo aquilo, um nojo atingiu o estômago, ele não era igual
os outros homens que só pensavam em seduzir as mulheres por alguns instantes
como num jogo de mentira, ele queria uma mulher de verdade, para estar ao seu
lado por todos os dias da sua vida. Aquela mulher que ele pudesse compartilhar
os momentos mais felizes, aquela mulher que ele amasse num profundo desespero e
que não conseguisse mais viver sem.
Cansado de
tanta sacanagem, Jonathan foi de encontro a Marinho, que estava sentado no sofá
com uma mulher que estava com uma das mãos dentro da sua calça fazendo gestos
rápidos que o deixavam todo arrepiado.
-Estou indo
embora Marinho. Outro dia nos encontramos para conversarmos melhor-
Nesse momento,
logo após despejar todas essas palavras para o seu companheiro, Jonathan ouviu
vozes brigando no fundo do salão. Um homem pegava uma das dançarinas pelo braço
e gritava com ela palavrões, insultando-a de todas as formas.
-O que esta
acontecendo aqui? – Quis saber Jonathan, com uma voz firme que intimidasse o
outro homem, que era muito mais velho que Jonathan- Largue a moça, você não
percebe que a esta machucando?
Passando as
línguas pelos lábios e mostrando aqueles dentes amarelados, o velho falou com
um hálito horrível de cachaça:
-Vagabunda não
sente dor, menino. Vagabunda só sente prazer- Com voz de bêbado, as próximas
palavras do velho se perderam aos poucos-
Eu pagu...ei pra met...er nessa pu... desgraçada.
- Não ouse
falar assim dela- disse Jonathan apontando o dedo para a cara do velho- O
senhor não vê que a esta assustando- Nesse momento a garota chorava
incessantemente, sua maquilagem estava toda borrada- Me siga até o quarto disse
ele para a moça, você pode ir embora seu velho estúpido- nessa hora Jonathan
agarrava a gola do velho com força- Não apareça nunca mais- Virou as costas
junto com a menina e foi de encontro ao segundo andar.
Na segunda
porta a direita os dois esbarram com um cara em frente a uma porta.
- Pagamento
adiantado- disse o senhor.
- Não quero
fazer sexo com ela- disse Jonathan- Estou aqui porque ela não esta bem, acabou
de ser maltratada por um cliente.
Com um ar de
esnobe, o funcionário gordo e papudo falou:
- Esse
problema não é meu, ela trabalha aqui para satisfazer as vontades de nossos
clientes, se você não quiser desfrutar de seus serviços, acho melhor o senhor
ir embora.
-Tudo bem, eu
pago- disse ele com um ar consternado.
Jonathan tirou
algumas notas da carteira para o funcionário e entrou com a moça no quarto. Ele
pegou e começou a tirar o casaco, dentro daquele quarto estava muito calor, só
havia um ventilador velho, um banheiro e uma cama de casal.
Ele sentou na
beirada da cama, passou as mãos carinhosamente pelos cabelos da moça que não
parava de chorar e disse:
-Qual o seu
nome?
-Angelina-
disse ela aos prantos.
Quando a moça
virou o seu rosto e seus olhos se encontraram com os de Jonathan, algum tipo de
choque percorreu o corpo do jovem galã. Aquela garota, com os olhos negros tão
intensos, e aquele rosto dotado de sofrimento fazia com que Jonathan sentisse
uma imensa vontade de protegê-la para que mais ninguém pudesse fazê-la sofrer.
-Quantos anos
você tem?
-Dezesseis-
Angelina começou a tirar toda a roupa. Ficou nua na frente de Jonathan, que
sentiu seu corpo ardendo por uma chama- Obrigada por tudo, o senhor pagou pelo
serviço, eu preciso terminar o meu trabalho- seus olhos ainda derramavam
lágrimas.
Depois de
observar aquele corpo de cima a baixo, Jonathan pegou as roupas da garota no
chão e mandou-a vestir.
- E o serviço
que o senhor pagou? Não é justo.
-Existem
outras maneiras de você realizar esse serviço. Quero poder observa-la a noite
toda, quero apreciar a sua beleza. Minha linda jovem- Nesse momento suas mãos
seguravam o queixo das jovens, e seus lábios carnudos estavam muito próximos
dos lábios finos do jovem cavalheiro-Saiba que eu nunca vou lhe fazer mal.
Os dois
ficaram ali por alguns momentos se olhando, Jonathan via em Angelina a cada
segundo que passava uma beleza contagiante, seus cabelos curtos cor de fogo,
sua pele lisa e perfumada...
Como que uma menina cheia de potencial poderia
estar vivendo num inferno? Essa era uma pergunta difícil de ser resolvida, nem
todas as pessoas nasciam com sorte, o mundo não parecia ser construído por
justiça. O temor aterrorizava os homens, e o medo do breu causava uma falsa
segurança, que muitos chamam de justiça humana.
Depois de meia
hora se olhando, Angelina cansou de manter contato, deitou na cama e colocou a
sua cabeça sobre as pernas cruzadas de Jonathan, olhando para cima ela abriu um
sorriso.
- Ao seu lado
me sinto tão segura.
Ele acariciou
lhe os cabelos, desfez um nó com gestos simples. Ainda fazendo carinho na jovem
mulher, ele disse:
-Tenho uma
proposta para lhe fazer. Você é muito nova para trabalhar num lugar como esse,
Angelina, você merece um mundo muito melhor. Venha morar comigo e te mostrarei
como a vida pode ser bela.
-Quem disse
que minha vida não é bela?
- Percebe-se.
Sua realidade pode ser bem melhor.
- Minha mãe
também trabalhava com o corpo, e sempre foi muito feliz. Até o dia em que um
dos seus clientes, cheio de um ciúmes doentio a matou. Nosso trabalho poderia
nos causar felicidade, porém não conseguimos sossego porque trabalhamos com
homens desequilibrados, homens que só pensam em poder, homens mesquinhos...
- Eu sei, eu
sei- disse ele, tranquilizando-a- Fique calma, já passou. Se você quiser pode
passar só essa noite lá, como uma experiência. Prometo que você não irá se
arrepender.
Seus lábios de um vermelho vivo abriram um
pequeno sorriso. A decisão estava tomada, Angelina pegou suas coisas, Jonathan
desceu as escadas e sem se despedir de Marinho pegou um táxi com Angelina rumo
a sua casa. Meia hora depois os dois estavam em frente à casa de Jonathan. A
chuva continuava, assim como a chama do coração de Jonathan, que não tinha se
apagado, pelo contrário, parecia mais potente com o passar do tempo.
Quando os dois
entraram na casa, Jonathan mostrou para Angelina o quarto em que ela iria ficar, depois deixou-a descansar, ele foi até uma gaveta no armário da sala e pegou
um envelope.
“Preciso
esconder isso... ”.
Jonathan tirou
um quadro que continha um cavalo da parede e girou quatro números para abrir
o cofre, depois de abri-lo ele depositou o envelope lá dentro.
“Agora me
sinto mais seguro”.
Ele ficou o
resto da noite pensando em Angelina. Estava morrendo de vontade de vê-la, mas
sabia que o melhor era manter certa distância para que sua convidada se
sentisse mais a vontade. Ele virou para o lado com o travesseiro azul abraçado
e pensou:
“Amanhã será
uma dia bem melhor...”
E foi com essa
convicção que Jonathan conseguiu pegar no sono.
Enquanto o
dono da casa dormia, Angelina vasculhou cuidadosamente todos os lugares da casa
até encontrar o cofre atrás do quadro. Quando isso aconteceu, um longo sorriso desabrochou
pelos seus lábios vermelhos de perdição.
Foi com muito
cuidado que ela saiu da casa de Jonathan no meio da madrugada e desceu a Rua
dos Operários, em busca do seu valiosa ideia de mudar de vida. Antes de chegar
ao encontro em que tinha marcado, ela foi até um de seus primos pegar um
instrumento essencial para a sua estratégia.
Chegando ao local planejado, Angelina bateu na
porta três vezes antes da aparição de um homem.
- Conseguiu
achar algo de interessante?
- Encontrei um
cofre atrás de um quadro.
-Excelente- disse
ele com brilho nos olhos- Agora você pode voltar para o Don Juan, amanhã levo a
sua recompensa.
Com o olhar
sério e assustador, Angelina apontou a
arma para o peito do homem e disse:
- Não quero
essa porcaria de recompensa, Marinho. Eu quero muito mais, você não sabe o que
eu passei naquele lugar, como que eu tive que amadurecer cedo por causa das
vontades do homem. Só que agora é diferente, eu estou no controle. Eu terei uma
vida nova, uma vida digna- gritou ela ao mesmo tempo em que um raio riscava o
negro céu.
-Não faça
nada. Você poderá se arrepender. Eu terei muito dinheiro, poderemos sair da
ilha, poderemos viver uma vida nova. Nós dois juntos- Ele passou a mão pelos
cabelos dela- Vivemos momentos na cama de tanto prazer, te ofereci tanta coisa-
agora sua expressão era de muita dor, parecia que Marinho sentia o cheiro da
morte bem próximo de suas narinas.
- Na cama eu só
sentia nojo quando estava ao seu lado- Colocando a arma nas costas de Marinho,
ela disse baixinho- Agora você vai à frente, sem olhar para trás até a casa de
Jonathan. Qualquer gracinha será a última...
Obediente, com
medo da morte, Marinho com roupas de ficar em casa, foi lentamente a casa de
Jonathan. Angelina o seguia com poucos metros de distância. Qualquer movimento
brusco seria um bom motivo para ela atirar. Seu ódio era tão intenso, que nem
as estrelas do céu podiam levar leveza aquela alma cheia de sofrimento, cheia
de revolta dentro do coração.
Jonathan
acordou com Angelina sentada na beirada da cama e Marinho encostado na parede
do seu lado da cama.
- O que
aconteceu?- disse ele esfregando os olhos e se esticando.
-Nada. Só
fiquei aqui te observando- Ela pegou e apontou a arma para a cabeça de
Jonathan- Você parece um anjo dormindo- disse ela com um olhar apaixonado.
Com os olhos
arregalados, Jonathan rapidamente se sentou e olhou para seu amigo Marinho que
estava com o seu olhar fixo na arma.
- Diga a ele
Marinho- disse Angelina, que nesse momento parecia estar se divertindo- Diga
que você queria roubar o seu melhor amigo.
- Que história
é essa?- perguntou Jonathan olhando para Marinho.
- Eu queria
roubar tudo o que você tinha e partir para o continente rico. Porém confiei na
vagabunda errada, esta piranha agora toma conta da situação.
-Veja como
você fala comigo Marinho- Angelina apontou para a perna de Marinho e disparou.
Logo um grito de dor ecoou no quarto, Jonathan ainda tentou ajudar o amigo, que
aos poucos caia no chão com muitas dores.
Angelina
apontou o revólver para a cabeça de Jonathan e disse:
- Agora abra o
cofre. Estou cheia de homens que só querem saber de sexo, estou cheia de tudo
isso. Quero viver uma vida normal, como toda garota tem o direito de ter-
Jonathan
silenciosamente foi até a sala e colocou a senha do cofre. Quando o cofre foi
aberto, ele se afastou. Angelina com os olhos brilhantes olhou para ver o que
tinha lá dentro, e para sua grande decepção, em vez de achar muito dinheiro, a
única coisa que ela viu foi um envelope.
Com desejo,
com vontade, abalada. Suas mãos tremiam muito.
“Nada pode dar
errado, nada pode dar errado”, pensava ela.
Uma lágrima
escorria do seu rosto, estava tão perto de conquistar a sua liberdade, e agora
tudo parecia ter evaporado. Aquele envelope tinha que conter algo muito bom,
caso contrário seria o seu fim, seria o fim da memória de sua mãe que por muito
tempo havia sido obrigada a ter relações com homens. Seria o fim da sua
vingança, de seus dias de choro por ter que fazer sexo com mais um cara nojento
que fedia, roncava, peidava no meio da relação, que batia na sua cara, na sua
bunda com a maior força, que causava nojo. Seria o fim...
Aquele momento
parecia levar uma eternidade, o envelope agora estava em suas mãos, tudo
dependia daquele momento. Aos poucos ela abriu o envelope e começou a ler tudo
que estava escrito.
No final, um
leve sorriso aflorou de seus lábios.
- Jonathan
Salles e seu pai Manuel Salles proprietários do “Don Juan”, nada mal- disse ela
aos risos- E quanto será que ganha um proprietário daquele mausoléu? Deve ser
bastante, para o amigo tentar aplicar um golpe... Onde esta o dinheiro que você
recebe?
- Esta numa
mala embaixo do sofá ao seu lado- Sua expressão era de dor, ontem sonhava com
Angelina como uma moça bonita e apaixonante, mesmo a odiando agora, ainda podia
sentir a sua dor. Não era fácil para uma garota se prostituir tão cedo...
Angelina que
ansiava pela mala, abaixou-se para olhar por debaixo do sofá. Pegou a mala e
quando levantou levou um tapa na mão que estava com a arma e começou a brigar
com Marinho, que com todo ódio batia na sua cara, puxava o seu cabelo. Enquanto
isso, Jonathan estava parado, paralisado, sem saber o que fazer. Duas pessoas
da mais extrema confiança brigando por causa de ganância, duas pessoas traindo
os seus ideias na sua própria cara, tratando-o como um lixo, como um rapaz que
gostava de ser proprietário daquele ninho de ilusões prazerosas.
No momento da
briga, Angelina ou Marinho, não se sabe bem, chutou a arma que sutilmente,
rolou pelo piso da sala até os pés de Jonathan. Nesse instante os dois olharam
para a arma e pararam de brigar. Jonathan rapidamente pegou a arma e logo
apontou na direção de Marinho, e depois na direção de Angelina, que estava
cheia de marcas na cara, contudo a mala ainda estava em sua mão.
Pensativo,
Jonathan em poucos segundos quebrou o silêncio.
- Quem irei
matar primeiro?- perguntou ele para ele próprio.
Não houve
resposta, o silêncio tomou conta do lugar, o medo de perder a vida estava
instalado no local.
- Se eu matar
uma prostituta ninguém da cidade ficará com saudades, já se eu matar Marinho
terei maiores complicações. Espero que esse ato de generosidade sirva de lição
para você caro amigo.
Os olhos de
Angelina escorriam de medo, suas mãos tremiam de nervoso, já se lembrava de
como era uma menina inocente antes de ser levada para o “Don Juan”, se lembrava
de como seu futuro poderia ser promissor.
- Eu tentei te
salvar, Angelina. Saiba que eu me apaixonei por você, porém nosso amor foi
desperdiçado pela sua ambição. Lembre-se, um homem nunca perdoa esse tipo de
traição.
- Por favor- Implorou
ela, suas mãos ainda tremiam, e sua voz suou como o de uma garotinha.
Cinco segundo
depois uma bala atingiu a sua cabeça, suas mãos finalmente pararam de tremer,
seus medos caíram por terra, sua estrela de nascimento havia sido apagado por
uma cruz de tristeza.
Marinho
abraçou Jonathan, que logo empurrou o amigo. Naquele dia Jonathan havia avisado
Marinho de que ele passaria o resto de seus dias como cafetão no Don Juan por
tudo o que ele tinha feito, e caso ele não cumprisse o acordo, Jonathan faria
de tudo para vê-lo morto.
Pisando no
sangue de Angelina que se expandia pelo piso da sala, Jonathan olhou para seus
olhos e pensou:
“ A vida é
feita de cartas marcadas, no final só os fortes sobrevivem”.
Um mês depois
Marinho,
vestido de terno e gravata, arrumava o cabelo. Após alguns minutos ele foi para
o alto da escada dizer:
- É com honra
que dou as boas-vindas mais uma vez aos cavalheiros que frequentam o Don Juan.
Mais uma noite
de sedução estava por vir, cheia de choro, revolta e temores. Porém só os
fortes sobreviviam, os fracos somente choravam e faziam planos procurando um
mundo melhor, um mundo que nunca chegava, o mundo real era uma verdadeira
tortura para uns, para outros era uma diversão. Enquanto alguns sorriam, outros
choravam. Alguns diziam que Angelina estava com a mãe em paz no céu. Será que
pensar assim não era apenas uma forma de confortar os corações daqueles que
vivem? Quem ri nem liga pra quem chora.
O mundo esta
bom assim. Pra que mudar?
5 comentários:
Ficou muito bom! A história se passa em 1983, mas apresenta realidades muito atuais.
É verdade que "quem ri nem liga pra quem chora", parece que sempre foi e é assim, mas quem sabe isso um dia não muda.
Gostei do início ao fim. Parabéns!
Muito bom Gui!!!
Final perfeito, suspense na dosagem certa
Parabéns!
Caraca man, muito bom! Continua nesse caminho q vc voa!
Excelente! Conceito muito bom, e gostei de como é bem diferente dos seus textos anteriores.
Postar um comentário