24 de dez. de 2012

Carruagem Invisível


“Meus sonhos me levam para lugares de fantasias, me enchem de coragem para enfrentar os obstáculos da vida.”
  
   À noite numa floresta, passos ecoavam em meio à solidão. O barulho assustador fazia com que os pássaros voassem para um local mais tranquilo. Folhas amareladas aos poucos caiam com o forte vento. E os passos continuavam cada vez mais fortes, procurando encontrar algo que não se pode ver. Não se pode ouvir, muito menos sentir.
   Depois de algum tempo, andando por entre as árvores escuras, que pareciam esconder o grande tesouro da floresta. César Augusto, Anita Tollynni e Fernando Andrade encontraram um círculo de campo aberto. Anita estava esgotada. Suor atingia-lhe o rosto. Não sabia mais o que procurava, só sabia que devia continuar andando. Seu desejo corroía a sua alma, aos poucos sua razão aparecia para lhe ensinar algumas lições, porém seus passos automáticos mostravam que sua decisão já estava tomada, seu corpo apenas correspondia ao seu desejo. Mesmo com dor, devia continuar. Só os fortes conseguiam alcançar os seus sonhos.
   A lua atingia o seu esplendor. César sabia que desde o começo sua família o comparava como um grande imperador. Em seus ombros, carregava grandes responsabilidades. Queria vencer o mundo, sabia que para alcançar esse objetivo, dinheiro era essencial. Porém, após descobrir o segredo da floresta, nada parecia importar. As expectativas da sua família viviam em segundo plano. Dinheiro não era mais uma preocupação, agora tinha obstáculos muito maiores para enfrentar. Lua e sol pareciam meros coadjuvantes naquele cenário. Logo o papel principal ficaria encarregado de deixar os leitores cheios de expectativas, que no final deveriam ser aplaudidas ou vaiadas.
   O silêncio instalou-se no local. Fernando Andrade vivia com medo, desde criança, o que mais queria era estabilidade. A noite sempre rezava para que seu mundo nunca desmoronasse em meio aos seus pés. Nada podia ser mais frustrante do que enfrentar aquilo que não se podia ver. Só de pensar na possibilidade de ocorrer algo que não estava em seus planos causava-lhe um nó no estômago difícil de suportar. Mas, mesmo assim, estava ali. Procurando uma grande aventura com recompensas assustadoramente positivas.
   Os três compartilhavam o calor da juventude. Tinham dezoito outonos completados e sonhos que nunca desapareciam de suas lembranças, muito menos de seus corações.
   - É melhor esperarmos até amanhã para continuar nossa empreitada- disse César com seus olhos escuros como ônix. Desde que se conheceram ele sempre gostava de tomar as decisões mais importantes do grupo. Como seus pais diziam, seu nascer em agosto ajudou-o a ter no sangue espírito de liderança. Muitos na escola o chamavam de quatorze, uma brincadeira referente ao rei Luís XIV que era considerado o Rei Sol e líder do absolutismo na Europa.
   - Não sei. O Cavaleiro dos Planetas nos disse que encontraríamos a carruagem durante a noite. Precisamos encontrá-la o mais rápido possível, novas pessoas podem estar sendo acionadas para essa missão, não podemos fracassar- disse Fernando, cheio de ousadia. Parecia que era a primeira vez que contrariava um líder nato. Suas palavras pareciam cheias de razão, porém atrás da cortina do seu grande espetáculo de coragem, os expectadores ainda podiam sentir o cheiro do medo espalhado pelo local. Com dor nas costas, ele mudou a sua mochila das costas e colocou na parte da frente. Os três levavam mochilas com alimentos, produtos de higiene e objetos que poderiam servir de ajuda para necessidades extremas.
   -O que você acha?- perguntou César. Os dois se viraram para Anita esperando alguma resposta.
    - Acho que Fernando esta certo- Ela sabia que suas decisões deviam ser realizadas através de grandes raciocínios. No fundo ela sabia que dos três ela era a mais fraca, e por isso devia usar suas únicas fontes de poder para garantir frutos que no futuro poderiam ser utilizados para a sua vitória. César se achava o mais forte, não poderia aumentar ainda mais a sua autoridade, seria muito mais fácil confrontar Fernando quando fosse necessário, já César, devia tomar grande cuidado com suas ordens se ela quisesse encontrar a Carruagem Invisível junto com eles, ou antes, deles. Para ter certeza de que nenhum dos dois a deixaria para trás.
   Os passos continuaram a fazer barulho. Os três aventureiros voltaram a percorrer caminhos por entre as árvores. Agora elas pareciam grandes amigas, já estavam acostumados com o seu cheiro. O vento no rosto refrescava o calor que cada um sentia devido aos grandes esforços físicos que enfrentavam.
   Passos e mais passos. Arvores a mais árvores. Pensamentos e pensamentos. Aquela aventura não parecia ter fim, estavam muito próximos de duvidar de suas certezas e cair sobre o abismo das incertezas. Vivendo num mundo cheio de mentiras e cheio de verdades era difícil confiar no certo ou no errado. E cada passo mostrava mais coragem, cada passo mostrava mais fé. Só os fortes sobreviviam. Seus pensamentos eram suas piores fraquezas. Cada um via em seu reflexo o pior inimigo. E mesmo assim, eles acreditavam, porque o mundo é feito de pessoas que acreditam. Que observam uma rosa no asfalto e apreciam todo aquele esplendor, que observam a chuva pegar fogo ou o sol se apagar. Sem sair da realidade, desencadeando mundos e mundos de pequenas, médias e grandes verdades. Sem fantasia, a realidade seria pó. Cada um cria suas próprias fronteiras de imaginação em sua mente, para alguns não existe fronteiras, para outros falta imaginação. Alguns vivem molhados na fonte, outros secos de verdades com razão.
   Fernando sentou-se e falou:
   -Não aguento mais, preciso descansar- Seus olhos azuis, seu cabelo curto castanho-escuro mostravam cansaço. Contudo, sua mente mostrava razão.
   -Concordo com Fernando, precisamos descansar- continuou Anita cheia de autoridade. Seus cabelos dourados e encaracolados cobriam os ombros, sua pele macia e seus olhos cor de mel entravam em contraste com sua forte personalidade. Por fora parecia doce, uma donzela, por dentro era forte e guerreira.
   -Muito bem- riu César- Estou do lado de pessoas que vivem mudando de opinião. As decisões não parecem fazer o menor sentido. Porém, como humilde amigo, vou acatar aos seus pedidos. Vamos parar por hoje.
  -Se vocês quiserem eu posso ficar acordado, de vigia- disse Fernando com palavras vazias que por dentro queriam ter coragem.
  -Pode ser- concordou Anita, que se sentia a dona da situação.
  César não disse nada. Apenas deitou no chão próximo de uma árvore, colocou a mochila de lado e ficou ali encarregado de silêncio.
  Anita esticou os braços, tirou a mochila das costas e deitou próxima a outra árvore.
Quero vencer. Estou tão perto. Mas ao mesmo tempo estou tão cansada. Amanhã tenho que conseguir encontrar a carruagem. Custe o que custar.
   Os três lembravam-se bem do dia em que o Cavaleiro dos Planetas os visitou e explicou uma missão que trazia recompensas fantásticas.
   - A carruagem invisível pode ser encontrada quando a lua alcançar o auge do céu. Quem encontrá-la poderá utilizar de seus segredos, poderá encontrar seus sonhos escondidos no meio das galáxias, sumir pelo mundo ou encontrar o caminho do céu e o riacho do amor. Seus segredos estão escondidos na Floresta Sem dono, perdida durante anos. E só alguns poderão enxergá-la, porque nem todas as pessoas possuem magia no coração.
    E lá estava Fernando, a cinquenta metros da carruagem invisível. Ele havia pedido para descansarem só para encontrar a carruagem invisível enquanto estivesse dormindo. Ela reluzia prateada no meio da floresta, linda e antiga. Cavalos alados comiam grama e pareciam sorrir. Seu mundo estava perto de se tornar fantasia, queria desfrutar de todos os sentimentos bons invisível, ficaria escondido da sociedade e poderia realizar todos os mistérios despertados por suas ideias dotadas de grandes histórias com final feliz e muita realidade.
    Ficou ali aguardando. A glória estava tão perto. Não podia deixar a vitória escorregar pelas suas mãos. Por isso certificou-se de que seus colegas estavam dormindo e começou a caminhar em direção a carruagem. Seus olhos azuis pareciam refletir o brilho das estrelas do céu. Seu rosto parecia se iluminar, um largo sorriso queria despertar de seus lábios. Quanto mais perto chegava, via que a carruagem era imensa, sua porta tinha estrelas e planetas expostos em harmonia. Fernando olhou mais uma vez para trás e chegou à conclusão de que a glória seria alcançada. Desde o começo gostaria de vencer sozinho. Queria desfrutar de todos os limites. Queria compreensão, não era mais aquele garoto medroso que ficava com medo do irreal.
    Suas mãos já podiam alcançar os cavalos alados. A Carruagem invisível, eu consegui. Eu consegui. Sem saber como, a porta da carruagem se abriu. Fernando ficou com os olhos esbugalhados, não sabia como reagir, viu ela por dentro e foi surpreendido. De repente, a escuridão atingiu o local, e seu mundo caiu na invisibilidade.
   
   Anita acordou com o vento beijando-lhe a face. Sua frieza a assustou, logo ela olhou para os lados e descobriu que estava só. Não havia nenhum sinal de César ou de Fernando para confortar os seus pensamentos.
   A jovem correu para os lados, gritando o nome dos rapazes em vão. Seu sonho já não existia mais. Seus joelhos encontraram a terra fria e suas lágrimas percorreram seu belo rosto.
   Aos poucos ela começou a correr, deixando a mochila para trás. Ainda tenho tempo, preciso vencer. Passo a passo, suas pernas já estavam cansadas de tanto andar. De repente ela percebeu que a terra estava banhada de sangue. Seus passos pisavam no líquido vermelho com cada vez mais força. As árvores estavam assustadoramente escuras, o sangue começava a aumentar. O líquido já chegava aos seus joelhos. Um grito ficou preso em sua garganta.
   Morreria afogada pela essência da vida. As árvores pareciam sorrir. Seu aspecto sombrio lhe causava medo. Anita segurou em um galho de uma árvore e começou a escalá-la até o topo. Lá ficou observando o sangue aumentar, olhava para os lados e se sentia cercada.
   O líquido já alcançava o seu quadril. Ficou olhando para aquela vermelhidão e ficou vislumbrada com o seu aspecto, o líquido iluminava a sua beleza. Nunca havia se sentido tão bela, com espada e escudo em mãos. Sabia que não era mais donzela. Deixou-se levar pela sua aparência, e lentamente foi afundando num poço de decepção.
  
   César estava estonteante. Sua capa dourada, suas botas de couro, seu cetro banhado a diamante. Todos se ajoelhavam aos seus pés. Deixem o rei passar, aqui esta o mestre de todos vocês. Sou o dono do fogo e do gelo, minha alma revestida de poder, o mundo obedece as minhas ordens como lei. César se achava o dono do mundo. Gostava de ver as pessoas se humilharem perante a sua presença. Poderia vangloriar ou destruir qualquer um de seus súditos.
   Na praça central, ele tirou a coroa da mão de seu filho. Ele próprio se declararia rei. Com os olhos vermelhos de poder, César se auto proclamou rei. Todos na praça o aplaudiam, seria o símbolo do poder centralizado.
   Depois de acenar para todos, César foi direto para a sala do trono. Queria desfrutar logo de todas as suas regalias. Na sala do trono havia vários de seus servos mais fiéis. César continuou a sua caminhada, quando sentiu uma pontada no estômago, um de seus servos lhe esfaqueara. Não posso perder, não posso perder justo agora. Com esperança, César continuou a sua caminhada em direção ao trono, só faltavam alguns passos. E recebeu mais uma facada, mais uma, mais uma. Estou tão próximo. As duas últimas facadas foram fatais. César viu seus pais o esfaquearem friamente. Não chegarei até o trono.
   Antes de ser coberto pelo véu da desilusão, César disse:
   -Até vocês.
  E seu corpo cedeu à gravidade.
 
  Fernando estava entusiasmado com a beleza da carruagem. Seus bancos eram macios, revestidos de cor prata. A Floresta Sem Dono de repente sumiu aos seus olhos. Voavam pelo céu azul escuro.
  Soube que não tinha medo de altura.
  Desde criança sonhava com o mundo aos seus pés. Queria conhecer os segredos que envolvem o céu e a Terra. A imortalidade era cobiçada como um troféu. Seria tudo e nada. Alguém e ninguém até o final do universo. O dono do mundo. Vislumbrando as estrelas e as nuvens perto de seus olhos. A Carruagem Invisível o levava até os sonhos mais imaculados.
   Os Cavalos Alados pararam próximos a uma cachoeira em meio ao céu. Fernando podia apreciar o céu em cor alaranjada com o nascer do sol. O vento acariciou o seu rosto com leveza, a magnífica natureza atraiu o seu olhar. Desceu da carruagem nu, foi encoberto pelas nuvens que traziam água pura. Parecia uma piscina, com toda aquela cascata caindo do alto de uma colina verde esmeralda. As cores triunfavam pela sua visão. Nunca havia visto uma paisagem tão bela.
   Mergulhou naquela águas encantadas. Saboreando sua vitória. Foi acompanhado por sereias e golfinhos. Cada vez mais profundo. Não escutava mais sons de passos. Apenas pensava em nadar silenciosamente pelo mundo. As pessoas da Terra não faziam mais parte de sua vida. Uma fumaça branca rodopiou pelo seu corpo afundado nas águas. Aquilo cheirava a magia.
   O riacho do amor era puro e imortal. Fernando sentia alegria ao aproveitar tudo aquilo. Aquele aspecto sobrenatural lendário o divertiu durante semanas. Até o momento em que começou a sentir falta de uma pessoa.
   Aquela cachoeira não parecia descarregar águas tão limpas, os golfinhos não conseguiam falar, nem as sereias conseguiam lhe seduzir. Queria alguém com quem pudesse compartilhar toda aquela alegria. Tivera a oportunidade de ser feliz para sempre, nas costas do Universo. Porém, tudo foi despejado quando sua ambição falou mais alto dentro do seu coração.
   Não quero mais ficar aqui. Não vou aguentar viver sozinho meus sonhos. O que são os sonhos se eu não posso mostrá-los para as pessoas? Sonhos que pareciam ter virado pó com o tempo. Nada mais importava. Um sorriso de alguém. Um abraço carinhoso, um beijo sincero. Qualquer coisa poderia ser melhor. Porque duas pessoas se completam. Talvez isso seja o amor. Talvez isso seja amar.
    Fernando voltou para a Carruagem Invisível observando o céu azul claro. Viajou por várias paisagens deslumbrantes pelo Universo. Conheceu planetas novos. Mas não havia mais ninguém com que pudesse conversar. Às vezes começava a conversar sozinho. Tinha medo de esquecer-se das palavras, de esquecer o sentimento humano. Sua vida estava condenada a admirar o céu. E lá ficava Fernando, a cada dia sentado em uma nuvem, procurando entender sua morte.
   Um dia era azul, outro cinza, algumas vezes ficava laranja. A vida também era assim, ás vezes ele sorria, ás vezes ele chorava, mas continuava a apreciá-la. Até o dia em que ele vivesse somente para não morrer. E a partir desse dia sua vida seria feita de amargura, como a que vivia hoje.
   Fernando gostaria de apagar o céu e terminar o mundo.
   Contudo, mais uma vez seu egoísmo falaria mais alto.
    Ele virou seu olhar para o lado e viu a Carruagem Invisível prateada reluzir no meio das nuvens. Estava sem medo.
   Um sorriso despertou pelos seus lábios.
   Viajaria mais uma vez pelos sonhos, sem aproveitá-los!

18 de dez. de 2012

Assassino da Mente


   Minhas mãos manchadas de sangue não conseguiam alcançar o poderoso sol. Pensamentos destruidores passavam pela minha mente. Queria desesperadamente acabar com todo aquele sofrimento, porém tudo o que eu via era o vazio rolando pela estrela cadente.
   Andei pelo jardim tentando entender as flores que bebiam a escuridão escondida no céu.       Queria me afastar do belo. Fiquei ali, contemplando elas murcharem com o tempo, igual aquele corpo que jazia no tapete voador.
   Com os dedos encontrando meus lábios vagarosamente, fiquei com medo de todas aquelas coisas que pareciam existir. Era tanta vida que por incrível que pareça fiquei com medo de me sentir sozinho. Se pudesse, mataria todos com minhas próprias mãos e jogaria todo o sangue no mar, cortaria suas cabeças e lhe entregaria aos corvos para lhes alimentar.
   Louco. Sou completamente louco. Voltei para casa, longe daqueles pensamentos revoltantes que pareciam me amedrontar. Fui para o quarto, me cobri com o universo e tentei dormir em cima da nevasca. Água saia por debaixo da porta, tentei nadar por um mundo que não existia.         Eu sabia, estava completamente só. Acordei assustado. Os anjos do céu não me deixavam dormir. Sabia que tudo que eu pensava era pecado, por isso fui para a cova me esconder. Não havia mais palavras belas para simplificar toda essa história, muito menos razão. Fiquei louco, louco de pedra tentando entender porque aquele corpo antes tão alegre, agora estava imóvel voando pelo céu que parecia derreter.
   Lá na cova me encontrei com as baratas e com desenhos na escuridão. Fiquei ali, rezando por uma luz. Contudo, o que veio foi chuva, alguém queria me enterrar. Agora eu tinha certeza.   Eu podia sentir meus olhos se fechando pela última vez, com a gargalhada de meu inimigo ecoando nos meus ouvidos após meu triste fim.
   Ninguém precisava dançar para me dizer que eu estava correndo risco. Logo, sai da cova e voltei para o jardim que estava coberto de flores podres. As cores sumiram, o belo foi embora para sempre daquela vida sem sentindo. Sempre e nunca, palavras tão fortes que resolvi marcá-las com fogo em meu próprio corpo.
   Sempre estaria vivo para sentir medo, para sentir dor. Estava carregando o manto da tristeza do infinito e por diversas vezes choraria por um amor.
Nunca mais voltaria a olhar para os olhos das pessoas tão cheios de certezas Queria apenas beijar seus lábios e derrotá-las no jogo dos sentimentos das proezas.
   Sempre diria nunca para acalmar meu coração.
   Nunca diria sempre para confortar minha emoção.
   E mesmo perdido entre o sempre e o nunca. Eu sabia que para sempre minhas mãos ficariam manchadas, porque um dia eu acabei com a vida, acabei com o belo. Seria julgado e condenado ao inferno. Cheguei à conclusão de que era mal. Ajoelhado no jardim, as pétalas encostavam-se a meus joelhos, o céu estava claro como uma folha de papel em branco.
  Queria gritar, queria dizer nunca e sempre, pelo menos pela última vez. Alguém me seguia, eu sentia, a morte se aproximava. O sangue começava a escorrer pela minha cabeça, uma faca atingiu o meu coração. Encostei meu rosto nas pétalas, fiquei ali sozinho, escutando a gargalhada, tentando dormir!

3 de dez. de 2012

Tic Tac

  Tocando piano, na sala de música, me esforçava ao máximo não parecer patético perante os meus espectadores. Com melodias doces e serenas, esperava encontrar uma feiticeira que encantasse meu mundo obscuro e trouxesse cor a uma alma sem rumo. Enquanto esse momento não chegava, continuei a manusear minha bela canção, até os meus dedos se cansarem e o barulho dos aplausos destruir o pequeno silêncio instaurado com o término das melodias.
  Após o espetáculo, conversei com alguns admiradores do meu trabalho, contudo as conversas não poderiam ser mais entediantes, eles só sabiam se enaltecer por seus bons gostos e suas riquezas. Nada disso me interessava. Estava cansado de encontrar professores arrogantes sobre a vida, preferia muito mais conversar com os alunos que gostavam de compartilhar as suas experiências, e chegar a uma conclusão frágil como cristal sobre a misteriosa existência.
  Não sei por que tantas certezas, já que nossa única certeza é a vinda da prisioneira morte ao nosso encontro, para nos forçar um último beijo.
   Aqueles cavalos brancos e príncipes guerreiros pareciam estar muito longe do castelo do vilão da nossa história, o cruel dono do tempo.
    Nosso exército parecia estar cada vez mais desunido com o avanço da tecnologia. Não havia nenhum grande herói para nos defender, o mundo aos poucos mergulhava na poção do caos e a luz no fim do túnel não passava de uma grande ilusão.
   No final do corredor deparei-me com um relógio. Ele fazia tic-tac incessantemente. Queria poder mudar os ponteiros do relógio, queria poder voltar no tempo. Tentei destruir o vilão com minhas próprias mãos, porém aquele tempo já não existia mais.