3 de dez. de 2012

Tic Tac

  Tocando piano, na sala de música, me esforçava ao máximo não parecer patético perante os meus espectadores. Com melodias doces e serenas, esperava encontrar uma feiticeira que encantasse meu mundo obscuro e trouxesse cor a uma alma sem rumo. Enquanto esse momento não chegava, continuei a manusear minha bela canção, até os meus dedos se cansarem e o barulho dos aplausos destruir o pequeno silêncio instaurado com o término das melodias.
  Após o espetáculo, conversei com alguns admiradores do meu trabalho, contudo as conversas não poderiam ser mais entediantes, eles só sabiam se enaltecer por seus bons gostos e suas riquezas. Nada disso me interessava. Estava cansado de encontrar professores arrogantes sobre a vida, preferia muito mais conversar com os alunos que gostavam de compartilhar as suas experiências, e chegar a uma conclusão frágil como cristal sobre a misteriosa existência.
  Não sei por que tantas certezas, já que nossa única certeza é a vinda da prisioneira morte ao nosso encontro, para nos forçar um último beijo.
   Aqueles cavalos brancos e príncipes guerreiros pareciam estar muito longe do castelo do vilão da nossa história, o cruel dono do tempo.
    Nosso exército parecia estar cada vez mais desunido com o avanço da tecnologia. Não havia nenhum grande herói para nos defender, o mundo aos poucos mergulhava na poção do caos e a luz no fim do túnel não passava de uma grande ilusão.
   No final do corredor deparei-me com um relógio. Ele fazia tic-tac incessantemente. Queria poder mudar os ponteiros do relógio, queria poder voltar no tempo. Tentei destruir o vilão com minhas próprias mãos, porém aquele tempo já não existia mais.

2 comentários:

Mari disse...

Ficou muito bom mesmo. Adorei!

Raquel disse...

Fantástico! Acho que é um dos que mais gostei, mas parece que foi curto demais... ah, não sei, mas tá ótimo!

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