Andei pelo jardim tentando
entender as flores que bebiam a escuridão escondida no céu. Queria me afastar
do belo. Fiquei ali, contemplando elas murcharem com o tempo, igual aquele
corpo que jazia no tapete voador.
Com os dedos encontrando meus
lábios vagarosamente, fiquei com medo de todas aquelas coisas que pareciam
existir. Era tanta vida que por incrível que pareça fiquei com medo de me
sentir sozinho. Se pudesse, mataria todos com minhas próprias mãos e jogaria
todo o sangue no mar, cortaria suas cabeças e lhe entregaria aos corvos para
lhes alimentar.
Louco. Sou completamente louco.
Voltei para casa, longe daqueles pensamentos revoltantes que pareciam me
amedrontar. Fui para o quarto, me cobri com o universo e tentei dormir em cima
da nevasca. Água saia por debaixo da porta, tentei nadar por um mundo que não
existia. Eu sabia, estava completamente só. Acordei assustado. Os anjos do céu
não me deixavam dormir. Sabia que tudo que eu pensava era pecado, por isso fui
para a cova me esconder. Não havia mais palavras belas para simplificar toda
essa história, muito menos razão. Fiquei louco, louco de pedra tentando
entender porque aquele corpo antes tão alegre, agora estava imóvel voando pelo
céu que parecia derreter.
Lá na cova me encontrei com as
baratas e com desenhos na escuridão. Fiquei ali, rezando por uma luz. Contudo,
o que veio foi chuva, alguém queria me enterrar. Agora eu tinha certeza. Eu
podia sentir meus olhos se fechando pela última vez, com a gargalhada de meu
inimigo ecoando nos meus ouvidos após meu triste fim.
Ninguém precisava dançar para me
dizer que eu estava correndo risco. Logo, sai da cova e voltei para o jardim
que estava coberto de flores podres. As cores sumiram, o belo foi embora para
sempre daquela vida sem sentindo. Sempre e nunca, palavras tão fortes que
resolvi marcá-las com fogo em meu próprio corpo.
Sempre estaria vivo para sentir
medo, para sentir dor. Estava carregando o manto da tristeza do infinito e por
diversas vezes choraria por um amor.
Nunca mais voltaria a olhar para
os olhos das pessoas tão cheios de certezas Queria apenas beijar seus lábios e
derrotá-las no jogo dos sentimentos das proezas.
Sempre diria nunca para acalmar
meu coração.
Nunca diria sempre para
confortar minha emoção.
E mesmo perdido entre o sempre e
o nunca. Eu sabia que para sempre minhas mãos ficariam manchadas, porque um dia
eu acabei com a vida, acabei com o belo. Seria julgado e condenado ao inferno.
Cheguei à conclusão de que era mal. Ajoelhado no jardim, as pétalas
encostavam-se a meus joelhos, o céu estava claro como uma folha de papel em
branco.
Queria gritar, queria dizer
nunca e sempre, pelo menos pela última vez. Alguém me seguia, eu sentia, a
morte se aproximava. O sangue começava a escorrer pela minha cabeça, uma faca
atingiu o meu coração. Encostei meu rosto nas pétalas, fiquei ali sozinho, escutando
a gargalhada, tentando dormir!
3 comentários:
Tenso
Ficou incrível! Na minha opinião, é um dos melhores.
Uou. Sério, demais. Muito, muito bom.
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