
Quando abro os olhos durante a manhã, o universo e o sentido se perderam,
na estrela cadente que sorriu e na lua crescente que se encolheu.
Chega de palavras tristes. Chega de chorar pelo passado. Ouça o barulho
do espírito querendo se libertar. Abri a porta e você não estava lá.
O líquido da nossa amizade, do nosso parentesco distante, derramou a lágrima
da cópia e fez do nosso relacionamento algo errante, e nem a fênix que prometeu
renascer o nosso sorriso, ligou para anunciar o nosso tão aguardado encontro.
E do silêncio fez se o espanto. E do esquecimento a loucura. Nem lembro
mais da sua face quando procuro o álbum que marcou a nossa infância. O
tabuleiro de xadrez continua no quarto, com as peças jogadas e com o meu rei
triunfante, seu exército virou um fantasma, e nossas histórias algo irritante.
Escrevo para os anjos procurando uma solução para o nosso problema. Podem
ficar tranqüilos, caros leitores. Dessa vez prometo não cometer nenhuma
loucura. E o meu amigo? Quem enfeitiçou os diálogos leais e verdadeiros? O que
aconteceu com a juventude que não tem limite? Somos os reis do mundo? RESPONDE!
Diga os meus defeitos lentamente em meus ouvidos. Ensine o personagem
que você quer que eu seja. Prefiro interpretar alguém que não sou a quem eu
sou. Interpretar a si mesmo é muito difícil. Minha alma clama por liberdade, e
minha mente construída pelo mundo sangra com as mentiras.
Olho para os céus e vejo anjos descendo com gaiolas. Corro para um santuário
e me jogo na fonte do nada. Rolo pelas cores do dia do nascimento e bebo a água
encantada do nosso enterro.
Quando estou desesperado, bebendo algo sem gosto, vejo uma luz no fim do
túnel e eis que surge o nosso encontro. Os meus olhos de caçador, os seus de
compaixão. Os meus sentimentos beirando ódio e calor. Os seus de indiferença e
frieza.
- Parecia que nunca iria te encontrar novamente.
- Eu tive a mesma impressão- disse ele com um tom de voz seco.
- O que aconteceu com o laço que unia a nossa história?
- Rompeu-se quando descobrimos o sentido de viver.
- Não entendo. O que fazemos
juntos nesse lugar?
- Viemos morrer juntos- Ele pegou a única flor do local e a esmagou com
a força das suas mãos.
Assustado, coloquei a minha mão para proteger a luz dos meus olhos. Aos
poucos comecei a me aproximar, com minhas vestes negras rastejando pelo chão. Cheguei
perto do meu amigo e beije-lhe os seus pés. Dizendo baixinho:
- Qual personagem você quer que eu seja dessa vez?
Com medo, olhei para o espelho e vi os olhos do meu amigo. Falava comigo
e era ele quem respondia. Senti meus lábios secos como se nunca tivesse bebido água
na vida. Fiquei encolhido, aguardando a sentença final.
Senti seus pés chutarem a minha cabeça, a dor incendiou as minhas
fraquezas. Minhas mãos foram algemadas, meu sofrimento esquecido. Minhas
vontades enjauladas.
-
Liberte-me desse inferno que é ocupar a sua mente. Deixe-me refletir os seus
sentidos- Estávamos presos um no corpo do outro. Éramos um só!
2 comentários:
Sinto muito, não conseguirei fazer um comentário muito longo, porque fiquei completamente sem palavras com a beleza desse texto. Ficou incrível! Adorei!
Nossa, tá MUITO bom. Vai pros meus favoritos, sério, eu nem sei explicar direito porque gostei tanto haha
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