(Esopo)

Raios de luz. Sol, poder. O leão abria os olhos, dourados, para o mundo como a claridade desperta a manhã.
Seu aposento coberto por lã vermelha vinda de Vucana acolhia seu pêlo confortavelmente durante o sono.
Enquanto isso, as formigas trabalhavam a todo vapor. Com um
centímetro de comprimento comunicavam-se pelas antenas. Desde o alvorecer,
milhares cumpriam suas tarefas para o “Rei da Selva”.
Não pensavam, obedeciam. Durante as suas seis a dez semanas
de vida faziam do seu trabalho uma locomotiva de afazeres que resultavam no
maior tesouro do Leão. O tempo passava e seus feitos eram desprezados como o
seu tamanho e sua insignificância. Pareciam um fantasma para o reino, imperceptíveis
a um elogio ou um gesto de valor.
Três das bilhares de formigas tinham o privilégio de cuidar
dos aposentos do Leão, que a essa altura se encontrava na sala dos prazeres
tomando o seu café da manhã.
O leão tomava leite fresco, se arrastava nos móveis como um
gatinho mimado. Bocejava, mostrando a sua boca enorme e seus dentes afiados.
Após alguns minutos brincando com uma bolinha vermelha junto
com Juno um bicho-preguiça, seu braço direito, o leão voltou para os seus
aposentos que já haviam recebido o impecável toque das formigas.
- Juno, algum problema com as questões do reino? – perguntou
o Leão.
- Problema? Vossa Majestade nunca perguntou sobre os
problemas relacionados com a selva. Espero não ter recebido nenhuma queixa. O
senhor nem imagina o meu grande esforço para colocar tudo em ordem. Nem queira
saber, é um tremendo trabalho. Só de pensar...
- Não se preocupe, confio em você. Só queria sair um pouco
da mesmice, às vezes fico com um tédio ao cair na rotina.
- Normal, meu Lorde. A sociedade é feita assim, de
confiança. Digamos que uma confiança cega, ninguém gosta muito de saber o que
seus governantes estão fazendo desde que a sua situação esteja de bom tamanho. Pra
que arrumar confusão? Só de pensar...
O Leão sorriu.
- Às vezes te acho tão engraçado.
- Precisamos buscar rir sempre, para não acabar chorando.
Ao olhar para a janela do cômodo, o Leão e Juno observaram
construções, limpeza e absoluta ordem em equilíbrio com o verde da natureza.
- Parece que está tudo bem- disse o Leão.
- Claro que sim- respondeu Juno. As formigas continuavam o
seu trabalho, dia a dia, do amanhecer ao crepúsculo com o suor no corpo que
derretia os seus pensamentos.
Nesse momento o leão rugiu. Símbolo do seu poder, vibrante e
triunfante.
As formigas ouviram ao longe, pararam um segundo para
pensar, contudo logo continuaram. Havia muito trabalho para fazer.
Juno se despediu e ia saindo dos aposentos do rei quando o
leão percebeu que sua lã vermelha vinda de Vucana estava arrumada
magistralmente. Queria saber os verdadeiros responsáveis desse feito. Juno
bateu a porta e a preguiça tomou conta do Leão. No fundo ele achava que Juno
também não sabia.
Só de pensar...
Um comentário:
Ficou ótimo, uma verdadeira fábula. Adorei!
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