1 de ago. de 2013

Castigo

Esperando o tempo passar. Procurando a foice que rasgará silenciosamente minha pele, mostrando uma gota de sangue escorrendo por meu pescoço. Quente, humana. Sem esperança. Jogado no abismo da infinita escuridão, onde vozes se perdem no grito de dor, e imagens se produzem na beleza do fim.
Mergulhado em pensamentos ruins tento produzir a tristeza que irradia meus olhos escuros. Sei que perdi, a última chama se apagou com o pecado que cometi.
Não vejo luz, não vejo salvação.
Fico deitado com o cigarro na mão, produzindo fumaças em forma de monstros. Sozinho. Sozinho procurando entender onde me perdi, onde a maldade se expandiu.
Raios demonstram flashes assustadores. Nunca mais conseguirei dormir.
Nesse momento, em que o mal do cigarro contamina o meu pulmão, uma mulher chega para terminar o serviço. Não se enganem, não é nenhum anjo daqueles poemas tristes, mas sim uma serva pronta para realizar a sua tarefa.
Com um simples olhar, reconheço seu jeito sedutor. Antes de me levar para o inferno, seus lábios lambem o sangue que escorre por minha pele lentamente como se estivéssemos tendo alguma cena de amor.
Fico ali, inerte.
Esperando o golpe fatal.
Até o momento em que uma de suas facas acerta meu coração. Que aos poucos começa a parar de bater. Medo.
Vejo seus seios nus. Seus lábios gosmentos. E o mundo gira, gira com gritos de piedade não atendidos. Gira, gira com risadas maldosas.
E... Para.
Estou em meu corpo, mas não posso me mexer. Não enxergo, não escuto, não falo. Mas penso.
O pior de tudo. Sinto.
Porque quando corpos me seguram e me colocam no caixão, tento gritar pedindo ajuda. Porém, não consigo me mexer, não consigo falar. Sou eu contra a minha mente até a eternidade. Perdidos no escuro, pagando pelos pecados de matar alguém.
Depois de um tempo não me aguento, começo a querer parar de pensar, deixar de existir. Só que sou castigado, não tenho escolha.
Quando o enterro termina, insetos começam a invadir o caixão. Continuo sentindo suas patas inundarem a minha pele, entrarem pela minha boca e eu não posso fazer nada. Castigo, bem-vindo.
Tento lembrar coisas boas, porque já amei.
Penso em flores, porque já fui romântico.
Penso em risadas, porque já tive família.
Penso em bola, porque já tive diversão.
Penso em abraços, porque já tive amigos.
Penso em beijos, porque já tive amor.
Penso, penso, penso. Vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, trinta e um dias por mês e dois mil e treze anos até o fim de tudo.
Penso porque não escolhi o bem.
Penso porque acolhi o mal.
Penso, penso, penso em dormir.

Penso em não pensar e penso em recomeçar!

Um comentário:

Mari disse...

Gostei muito! Ficou ótimo.

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