13 de jan. de 2013

O Vilão II


“Eu sempre soube que o amor é para os fracos, contudo fui amaldiçoado por esse sentimento quando eu descobri que o mundo das Trevas não sobrevive apenas de ódio e maldade.”

                                                                                                          
                                                        (René Magritte/Les Amants)
   Joinville-SC                                  
  - Você é um nobre ou um camponês? –perguntava o garoto de cabelos negros e olhos escuros para o seu irmão.
  - Sou o que você achar melhor- respondeu o irmão de cabelos dourados sorrindo sem um dos dentes da frente.
  Os dois brincavam num extenso gramado com carrinhos, bonecos, uma caixa de areia e uma bola de futebol colorida.
   - Já volto Otávio- Teodoro levantou-se, jogou os bonecos no chão e correu em direção a casa.
   Otávio voltou a sua atenção para a caixa de areia, Teodoro havia construído um lindo castelo de areia, com direito a torres de princesas aprisionadas, bandeiras que incentivavam a violência através do forte nacionalismo e muralhas que guardavam os segredos mais perversos da humanidade.
   - Eu sei que você é um nobre, Teodoro- Otávio falava baixinho- Não adianta mentir.
   Com os olhos voltados de loucura, Otávio agarrou a bola de futebol com as duas mãos em cima de sua cabeça. O sol parecia estar mais forte nesse momento, aumentando ainda mais a beleza do nobre castelo. Otávio continuava com os olhos fixos quando arremessou a bola colorida que rodopiou até colidir com uma das muralhas do castelo.
   - O que você fez?- perguntou Teodoro atrás dele com os olhos cheios de lágrimas.
   - Acabei com as suas fraquezas- respondeu Otávio. E um dia acabarei com a sua dor, pensou ele.
   Otávio abriu os olhos para o presente e contemplou a escuridão. Gostava dessa sensação, de olhar para o nada e imaginar as vidas que se escondiam nas sombras. O tempo havia passado, como um sopro de outono. Sua mãe, seu pai e seu irmão não inalavam mais a essência da vida. Suas folhas amareladas ficariam para sempre guardadas em sua memória, tristes e indefesas.
    Seus pensamentos foram interrompidos quando uma mão calorosa pousou em seu peito nu e acariciou lentamente a sua pele. Aquele calor maravilhoso foi tomando conta da sua mente até o instante em que ele foi levado mais uma vez para o mundo dos sonhos.
  
    Na sala de estar da Mansão do prefeito na Rua Conselheiro Mafra, o prefeito e sua namorada tomavam café pela manhã. Ao longo da história vários personagens considerados vilões tinham o apoio de suas esposas, mas Otávio não tinha esposa, o amor não podia despertar dentro do seu coração. Sua namorada era uma inimiga poderosa. Deixe os seus amigos próximos, e seus inimigos mais próximos.
    Poderia ser comparado com Bentinho de Dom Casmurro? Jamais. Bentinho havia amado Capitu durante muito tempo, talvez pela vida inteira. Já Otávio não sabia muito bem como lidar com o amor. Bentinho havia tentado matar o filho, mas tinha sido fraco. Otávio queria matar o irmão e havia conseguido. O vilão já sabia da história e dos aprendizados que a envolviam. Nesse momento ele olhava confuso para a nobre namorada que lia um jornal com a seguinte manchete: “ Assassinatos em série assustam os moradores de Joinville”.
   Enquanto ela lia aquelas palavras, fruto da sua obra de justiça, seus olhos pareciam estar indignados. Ela era muito egoísta para se lembrar dos pecados que seus antepassados haviam cometido. E ele prestou atenção quando seus olhares se cruzaram.
   - Essa cidade não tem mais jeito- dizia Julieta sentada do outro lado da mesa com seus cabelos longos e encaracolados, dourados como o sol e com a pele macia e branca como a neve.
   - Mais chá, madame?
   - Não. Obrigada, Alfred- Ela pousou sua xícara de chá no pires e olhou indignada em direção a Otávio- A violência cresce cada dia mais, é impossível esquecer a brutalidade no assassinato do seu irmão. Pessoas ricas estão morrendo toda semana de forma cruel, a cidade está um caos e nenhum sinal dos assassinos- Julieta respirou profundamente e pediu gentilmente- Como prefeito, você precisa tomar alguma atitude radical, amor. Estou com medo de sair na rua...
   - Não precisa se preocupar, querida. Estou tomando as providências necessárias- O prefeito limpava os lábios com o guardanapo. Logo você será a próxima, pensou ele.
  - Onde você está indo? – perguntou Julieta quando Otávio se levantou e ajeitou o paletó.
  - Para a prefeitura- respondeu ele. Um sorriso despertou de seus solitários lábios, o poder certamente o levaria rumo à vitória! Andando com passos firmes, Otávio deu um selinho em Julieta. Deveria tomar cuidado com o amor, que poderia levar todos os seus planos à destruição com um simples sopro, desmoronando assim o seu castelo de areia.

5 comentários:

Anônimo disse...

Excelente como vc cria personagens tão interessantes,beijos e espero a próxima com muito entusiasmo...

Raquel disse...

Muito bom! Gosto de como você mantém o suspense revelando a história pouco a pouco...

Mari disse...

Incrível, está ficando cada vez melhor!

Luiz Fellipe Torrano disse...

meu filhote será um grande escritor!!!

Anônimo disse...

Estou ansiosa para a proxima parte!! AMEEEII! hahah ;)

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