(René Magritte/Les Amants)
Joinville-SC
- Você é um nobre ou um camponês? –perguntava
o garoto de cabelos negros e olhos escuros para o seu irmão.
- Sou o que você achar melhor- respondeu o
irmão de cabelos dourados sorrindo sem um dos dentes da frente.
Os dois brincavam num extenso gramado com
carrinhos, bonecos, uma caixa de areia e uma bola de futebol colorida.
- Já volto Otávio- Teodoro levantou-se,
jogou os bonecos no chão e correu em direção a casa.
Otávio voltou a sua atenção para a caixa de
areia, Teodoro havia construído um lindo castelo de areia, com direito a torres
de princesas aprisionadas, bandeiras que incentivavam a violência através do
forte nacionalismo e muralhas que guardavam os segredos mais perversos da
humanidade.
- Eu sei que você é um nobre, Teodoro-
Otávio falava baixinho- Não adianta mentir.
Com os olhos voltados de loucura, Otávio
agarrou a bola de futebol com as duas mãos em cima de sua cabeça. O sol parecia
estar mais forte nesse momento, aumentando ainda mais a beleza do nobre
castelo. Otávio continuava com os olhos fixos quando arremessou a bola colorida
que rodopiou até colidir com uma das muralhas do castelo.
- O que você fez?- perguntou Teodoro atrás
dele com os olhos cheios de lágrimas.
- Acabei com as suas fraquezas- respondeu
Otávio. E um dia acabarei com a sua dor, pensou ele.
Otávio abriu os olhos para o presente e
contemplou a escuridão. Gostava dessa sensação, de olhar para o nada e imaginar
as vidas que se escondiam nas sombras. O tempo havia passado, como um sopro de
outono. Sua mãe, seu pai e seu irmão não inalavam mais a essência da vida. Suas
folhas amareladas ficariam para sempre guardadas em sua memória, tristes e
indefesas.
Seus pensamentos foram interrompidos quando
uma mão calorosa pousou em seu peito nu e acariciou lentamente a sua pele.
Aquele calor maravilhoso foi tomando conta da sua mente até o instante em que
ele foi levado mais uma vez para o mundo dos sonhos.
Na sala de estar da Mansão do prefeito na
Rua Conselheiro Mafra, o prefeito e sua namorada tomavam café pela manhã. Ao
longo da história vários personagens considerados vilões tinham o apoio de suas
esposas, mas Otávio não tinha esposa, o amor não podia despertar dentro do seu
coração. Sua namorada era uma inimiga poderosa. Deixe os seus amigos próximos,
e seus inimigos mais próximos.
Poderia ser comparado com Bentinho de Dom
Casmurro? Jamais. Bentinho havia amado Capitu durante muito tempo, talvez pela
vida inteira. Já Otávio não sabia muito bem como lidar com o amor. Bentinho
havia tentado matar o filho, mas tinha sido fraco. Otávio queria matar o irmão
e havia conseguido. O vilão já sabia da história e dos aprendizados que a
envolviam. Nesse momento ele olhava confuso para a nobre namorada que lia um
jornal com a seguinte manchete: “ Assassinatos em série assustam os moradores
de Joinville”.
Enquanto ela lia aquelas palavras, fruto da
sua obra de justiça, seus olhos pareciam estar indignados. Ela era muito
egoísta para se lembrar dos pecados que seus antepassados haviam cometido. E
ele prestou atenção quando seus olhares se cruzaram.
- Essa cidade não tem mais jeito- dizia
Julieta sentada do outro lado da mesa com seus cabelos longos e encaracolados,
dourados como o sol e com a pele macia e branca como a neve.
- Mais chá, madame?
- Não. Obrigada, Alfred- Ela pousou sua
xícara de chá no pires e olhou indignada em direção a Otávio- A violência
cresce cada dia mais, é impossível esquecer a brutalidade no assassinato do seu
irmão. Pessoas ricas estão morrendo toda semana de forma cruel, a cidade está
um caos e nenhum sinal dos assassinos- Julieta respirou profundamente e pediu
gentilmente- Como prefeito, você precisa tomar alguma atitude radical, amor.
Estou com medo de sair na rua...
- Não precisa se preocupar, querida. Estou
tomando as providências necessárias- O prefeito limpava os lábios com o
guardanapo. Logo você será a próxima, pensou ele.
- Onde você está indo? – perguntou Julieta
quando Otávio se levantou e ajeitou o paletó.
- Para a prefeitura- respondeu ele. Um
sorriso despertou de seus solitários lábios, o poder certamente o levaria rumo
à vitória! Andando com passos firmes, Otávio deu um selinho em Julieta. Deveria
tomar cuidado com o amor, que poderia levar todos os seus planos à destruição
com um simples sopro, desmoronando assim o seu castelo de areia.
5 comentários:
Excelente como vc cria personagens tão interessantes,beijos e espero a próxima com muito entusiasmo...
Muito bom! Gosto de como você mantém o suspense revelando a história pouco a pouco...
Incrível, está ficando cada vez melhor!
meu filhote será um grande escritor!!!
Estou ansiosa para a proxima parte!! AMEEEII! hahah ;)
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