14 de jan. de 2013

O Vilão III


“O discurso sempre foi uma boa arma das autoridades para manterem seus súditos fiéis. Palavras fortes expressadas em um tom firme são ingredientes fundamentais para se obter o Canto do Poder.”

                                                               
                                                               
                                                                 (Anton Semenov)
   Joinville-SC                                                
  -Cidadãos de Joinville- começou o prefeito com seu discurso em frente à prefeitura- Muitos moradores sofreram com uma série de assassinatos nas últimas semanas. Um deles foi inclusive o meu querido irmão- ele fez uma breve pausa e fingiu limpar uma lágrima no rosto antes de continuar, os flashes dos jornalistas iluminavam a cada segundo a sua alma sombria- É humanamente impossível descrever como é difícil perder uma pessoa que a gente ama. A única forma dessas famílias serem minimamente recompensadas é colocando os autores desses crimes atrás das grades. A prefeitura juntamente com o governo de Santa Catarina decidiu colocar o exército de Joinville nas ruas para combater esses criminosos. A BR-101 sentido Florianópolis e Curitiba/SP está sendo monitorada por militares, assim como o Aeroporto Lauro Carneiro de Loiola- Aves negras sobrevoavam o céu nublado- Sinto-me culpado pelos acontecimentos, seria capaz de trocar a minha vida por qualquer uma das vítimas. A dor dos familiares deve ser imensa, peço desculpa para todos, usarei todas as minhas armas para trazer a paz a essa cidade. Não precisem se preocupar, tudo voltará a ser como era antes. Afinal, não são os mocinhos que sempre vencem no final?
   -PAZ- gritaram todos os militares no palanque.
   -Quero justiça- disse o prefeito.
   - JUSTIÇA- Gritaram os militares.
   -Essa guerra iremos vencer- Dessa vez todos vocês terão que me obedecer, pensou o prefeito.
    Os moradores de Joinville e os militares o aplaudiam de pé. Nesse instante uma garoa começou a cair. Otávio sorria para os flashes e acenava para o seu povo. Finalmente a cidade estava em suas mãos. Para Otávio, Maquiavel havia errado, preferia ser amado do que temido pelo povo.
    Um desses flashes congelou o sorriso de vitória do prefeito no jornal do dia seguinte.

    A lua repousava no céu. Julieta ficou atordoada quando viu um caderno de capa preta na biblioteca do segundo andar. Otávio sabia que Julieta odiava livros e por isso havia escondido um dos seus maiores segredos ali dentro. A sua namorada só pensava em agradá-lo quando decidiu organizar os livros, mas aquele caderno havia chamado a sua atenção. Dentro do caderno estava o nome de todas as vítimas dos crimes recentes na cidade riscados. Vicente Nunes, irmão de Otávio, também tinha o seu nome riscado. Julieta percebeu que o seu nome era o último da lista, nas outras páginas havia reflexões sobre o livro “O Príncipe” de Maquiavel e algumas anotações sobre a nova raça que Hitler queria implantar na Alemanha durante o seu governo.
   Logo as informações começaram a se encaixar como num quebra-cabeça- Julieta tinha certeza de que Otávio estava por trás de todos aqueles assassinatos que assombravam a cidade.
  
   Na Rua Senador Filipe Schmidt, Otávio dirigia o seu Honda Civic preto rumo à mansão quando o seu celular começou a tocar.
   -Diga- disse o Otávio para Sérgio, o subprefeito.
   - Os herdeiros da maior empresa automobilística da cidade foram fuzilados na Igreja da Paz, assim como os quatro empresários que estavam desaparecidos. O plano está funcionando conforme o combinado.
   -Leve os corpos para o barco Príncipe e jogue-os na Baía da Babitonga- ele fez o sinal da cruz com a mão- Que o Senhor os proteja.
   Agora só havia um nome para riscar do seu caderno. Depois disso, conquistaria a tão sonhada vitória.

   Julieta tentava ligar para os seus pais que estavam em Florianópolis em vão. O seu celular estava sem sinal. Ela abriu a porta do quarto e observou os dois lados do corredor. Não havia ninguém. Julieta então decidiu descer as escadas, pronta para fugir, os cristais venezianos na luminária prateada iluminavam os seus caminhos. Demônios pareciam espiá-la por todos os lados, o medo atingiu o seu coração. Ela olhou a sala e não viu nenhum sinal de Alfred ou de outro empregado. Quando abriu a porta da sala, sentiu o vento da liberdade atingir-lhe o rosto no mesmo momento em que esbarrou com Otávio, que quando a viu, se ajoelhou e perguntou:
     -Quer casar comigo?- com um lindo anel de diamante entre os dedos.

4 comentários:

Mari disse...

Ficou muito bom. Tenho certeza que o fim será surpreendente e incrível!

Anônimo disse...

Muito bom, parabéns

Luiz Fellipe Torrano disse...

Todo mundo vai ficar curioso com o que a Julieta vai fazer!

Raquel disse...

Minha parte preferida até agora!

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