"O vazio pode nos levar ao desespero e os sentimentos a morte".
Sinto o seu pulsar, cada batida. Parece que meus sentimentos
são enterrados no buraco, que aprisionou o amor para sempre num lugar vazio
dentro de mim.
Com passos lentos, sinto o cheiro da morte se aproximar,
meus pés tocam o piso frio do cemitério, meus olhos já conseguem enxergar os
fantasmas vindos de encontro ao meu corpo.
Começo a correr. Desço as escadas do inferno e meus lábios
gritam com a sensação de meus pés pisarem no fogo da justiça. Corvos no céu
sobrevoam a minha mente, caveiras começam a acariciar o meu rosto com gestos
lentos e acolhedores. Sinto que esse é o meu lugar. Eles pareciam estar
entendendo a minha dor, chorando pelas minhas lágrimas, conformados com minha
morte.
Enquanto isso. Vislumbro uma mulher usando um vestido preto,
ela rodava rapidamente em cima de um altar, e quanto mais ela girava mais o seu
vestido começava a definhar e o planeta Terra ao seu lado se enchia de
escuridão. Até o momento em que o planeta havia sumido, e eu só conseguia
enxergar aquele corpo nu, aqueles lábios vermelhos de paixão, aqueles cabelos
loiros de ouro. Aquela alma levada ás profundezas sem um motivo, apenas
diversão.
De repente, o olhar daquela beldade encontra o meu, tenho
certeza de que serei presa fácil para aquela sedução. Espero ela chegar perto
de mim, e percebo que as caveiras começam a se afastar, os fantasmas a se
esconder, e eu hipnotizado, não consigo me mover.
Quando seus olhos encontram o meu, meus lábios já mantinham
contato com os seus. Suas mãos deslizavam por todo o meu corpo, fogo consumia o
meu ser, meus sentimentos conseguem nadar até a superfície do buraco que
parecia ser infindável dentro do meu peito. Nossos corpos começam a rolar pelo
cemitério, meus traumas da infância ficam esquecidos no passado cruel. Sinto
que estou mais vivo do que nunca, com suas unhas ela consegue apimentar a nossa
relação, não consigo pensar em outra coisa, apenas na fusão de nossas almas, no
nosso encontro mágico perante as leis da vida, esquecida por muitos no luar de
uma noite repetitiva.
Quando ela termina a nossa relação antes da explosão do meu
amor, percebo que ela é a dona do cemitério, por isso preciso matá-la. Lutar
contra o que eu sinto para conseguir a liberdade de todos. Preciso me livrar do
pecado que a todo instante me atrai para fazer coisas erradas.
Aos poucos me aproximo por trás dela, e me preparo para o
golpe fatal. No momento em que ela se virar, estarei pronto para destruir
aquele belo corpo e libertar o cemitério daquela ditadura eterna. Aos poucos
ela vai virando e em vez de matá-la, beijo os seus lábios, me curvo aquele
poder. A lua no céu começa a chorar, as caveiras a se encolher. Beijo, beijo,
cada vez mais profundo, tentando entender o sentimento que desde a infância
consegue se esconder. Mais profundo, mais profundo, até que meu lábio começa a
sentir dor, até que quando abro os olhos percebo que a boca dela parece estar
me engolindo aos poucos, começo a sentir frio, sem aquele calor do inferno pra
me esquentar, sem aquelas imagens pra me seduzir. Apenas um corpo no breu,
inexistente desde a infância, desde o momento em que se perdeu!
4 comentários:
Ficou muito bom, adorei!
Não é mesmice é um sentimento profundo e sombrio expresso nas mais belas palavras.
Muito bem escrito! Gostei.
Adorei! A parte em que seu vestido começa a definhar levando o planeta a escuridão foi uma perspectiva muito diferente e interessante, resultado da sua incrível criatividade.Beijos!!
Gui, gostei muito, foi bem profundo, realçando com belas palavras sentimentos sombrios. Está escrevendo cada vez melhor
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