27 de jul. de 2012

Coração Amaldiçoado


    "O vazio pode nos levar ao desespero e os sentimentos a morte".
   
    Ando pelos pesadelos procurando entender a maldição que habita dentro do meu ser. Coração escuro perdido nas sombras do passado, sem você fico perdido no mundo, vagando por uma névoa densa e assombrado por traumas da vida, vindos da infância.
Sinto o seu pulsar, cada batida. Parece que meus sentimentos são enterrados no buraco, que aprisionou o amor para sempre num lugar vazio dentro de mim.
Com passos lentos, sinto o cheiro da morte se aproximar, meus pés tocam o piso frio do cemitério, meus olhos já conseguem enxergar os fantasmas vindos de encontro ao meu corpo.
Começo a correr. Desço as escadas do inferno e meus lábios gritam com a sensação de meus pés pisarem no fogo da justiça. Corvos no céu sobrevoam a minha mente, caveiras começam a acariciar o meu rosto com gestos lentos e acolhedores. Sinto que esse é o meu lugar. Eles pareciam estar entendendo a minha dor, chorando pelas minhas lágrimas, conformados com minha morte.
Enquanto isso. Vislumbro uma mulher usando um vestido preto, ela rodava rapidamente em cima de um altar, e quanto mais ela girava mais o seu vestido começava a definhar e o planeta Terra ao seu lado se enchia de escuridão. Até o momento em que o planeta havia sumido, e eu só conseguia enxergar aquele corpo nu, aqueles lábios vermelhos de paixão, aqueles cabelos loiros de ouro. Aquela alma levada ás profundezas sem um motivo, apenas diversão.
De repente, o olhar daquela beldade encontra o meu, tenho certeza de que serei presa fácil para aquela sedução. Espero ela chegar perto de mim, e percebo que as caveiras começam a se afastar, os fantasmas a se esconder, e eu hipnotizado, não consigo me mover.
Quando seus olhos encontram o meu, meus lábios já mantinham contato com os seus. Suas mãos deslizavam por todo o meu corpo, fogo consumia o meu ser, meus sentimentos conseguem nadar até a superfície do buraco que parecia ser infindável dentro do meu peito. Nossos corpos começam a rolar pelo cemitério, meus traumas da infância ficam esquecidos no passado cruel. Sinto que estou mais vivo do que nunca, com suas unhas ela consegue apimentar a nossa relação, não consigo pensar em outra coisa, apenas na fusão de nossas almas, no nosso encontro mágico perante as leis da vida, esquecida por muitos no luar de uma noite repetitiva.
Quando ela termina a nossa relação antes da explosão do meu amor, percebo que ela é a dona do cemitério, por isso preciso matá-la. Lutar contra o que eu sinto para conseguir a liberdade de todos. Preciso me livrar do pecado que a todo instante me atrai para fazer coisas erradas.
Aos poucos me aproximo por trás dela, e me preparo para o golpe fatal. No momento em que ela se virar, estarei pronto para destruir aquele belo corpo e libertar o cemitério daquela ditadura eterna. Aos poucos ela vai virando e em vez de matá-la, beijo os seus lábios, me curvo aquele poder. A lua no céu começa a chorar, as caveiras a se encolher. Beijo, beijo, cada vez mais profundo, tentando entender o sentimento que desde a infância consegue se esconder. Mais profundo, mais profundo, até que meu lábio começa a sentir dor, até que quando abro os olhos percebo que a boca dela parece estar me engolindo aos poucos, começo a sentir frio, sem aquele calor do inferno pra me esquentar, sem aquelas imagens pra me seduzir. Apenas um corpo no breu, inexistente desde a infância, desde o momento em que se perdeu!

4 comentários:

Mari disse...

Ficou muito bom, adorei!
Não é mesmice é um sentimento profundo e sombrio expresso nas mais belas palavras.

Raquel disse...

Muito bem escrito! Gostei.

Anônimo disse...

Adorei! A parte em que seu vestido começa a definhar levando o planeta a escuridão foi uma perspectiva muito diferente e interessante, resultado da sua incrível criatividade.Beijos!!

Raquel Gonçalves disse...

Gui, gostei muito, foi bem profundo, realçando com belas palavras sentimentos sombrios. Está escrevendo cada vez melhor

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