30 de mai. de 2012

Dois mil e tudo!


"Só queria visualizar mais uma vez o seu sorriso que mexe com a minha alma, e dizer que no meu coração você é eterna"
(personagem Daniel Sulivam)

Os fogos de artifício já se apresentavam no horizonte. Algumas pessoas na beira da praia já comemoravam a chegada de mais um ano. Parecia uma incrível diversão, o champanhe era jorrado pelo corpo de várias pessoas da família. Depois vinha um forte abraço acolhedor, como que se aquele momento todos tivessem um coração puro o suficiente para amar o outro sem nenhuma diferença. Afinal, aquele momento era de festa, alegria por um futuro incerto que poderia trazer momentos de tristeza eterna ou de felicidade extrema.

Enquanto isso Daniel Sulivam andava pela areia descalço e vestido de camisa e bermuda branca, com um copo de champanhe na mão. Não tinha ninguém com quem ele pudesse abraçar, e muito menos comemorar. O ano anterior tinha sido o pior de sua vida, e nem a canção das ondas do mar era suficiente para lhe acalmar.

De tanto andar por pessoas estranhas cheias de diversão, ele se aproximou do mar e colocou os seus dois pés sobre as águas, aquela sensação era reconfortante, sentir seus pés gelados e o movimento do mar podia ser considerado como uma situação de privilégio para poucos que sabem apreciar a esplendorosa natureza.

A paisagem era mais do que bela, aquela pintura de cores no céu num momento de explosão se repetia por várias vezes, e a cada minuto poderia se pintar um quadro diferente, e todos apresentando o mesmo glamour e sofisticação. As coisas mais belas da vida não são compradas, muito menos difíceis de encontrar. São as mais simples possíveis, que vemos todos os dias e passa despercebido sobre nossos pobres olhares mortais.

"L'État c'est moi", pensou Daniel com os olhos voltados para o céu.

Muitas pessoas passam a vida idealizando conquistar o mundo, abranger algum poder e dispor de luxo e ouro em abundância, porém o que esquecemos é que antes de conquistar o mundo, precisamos conquistar nós mesmos. O que será de uma pessoa que não consegue conviver com si próprio? Somos os únicos que convivemos com nós mesmo vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, doze meses por ano. Somos os únicos que conhecem todos os segredos, todos os momentos importantes com pessoas que amamos. Somos os únicos que conseguem se aproximar o máximo possível do próprio eu. Por isso preencher o vazio que afeta milhares de pessoas do mundo só pode ser solucionado com o amor que depositamos em nós mesmos, e o orgulho que temos em existir, em ajudar o próximo e fazer coisas boas pra humanidade, além de se divertir.

Daniel não conseguia entender a razão de tanto sofrimento, cada ano era comemorado da mesma forma, e todos exacerbado de esperança. Na imaginação das pessoas tudo iria ser diferente, e algumas mais pessimistas diziam "Feliz Ano velho", contudo o que poucos sabem é que a mudança que passamos nas nossas vidas a maioria é gradativa, algumas podem ser radicais, só que poucas e insuficientes para as pessoas se contentarem. Parece que o ser humano adora passar por aventuras, todavia poucos são aqueles que a procuram com total vigor.

Com a decepção esbanjada em seu rosto. Daniel ergueu sua taça e brindou a morte. Sua noiva havia morrido uma semana atrás, seu amor por ela era tão grande que sua vida era considerada por ele pequena comparada ao amor que ele sentia no peito, uma turbulência tão grande de alegria que nem palavras seriam suficientes para poder descrever. Não se trata de razão, tampouco de loucura. É algo mais complexo, que infelizmente poucas pessoas no mundo conseguem entender.

Nem aquela música da primeira dança, nem aquela lembrança do pedido do casamento, nem a sensação do primeiro beijo quente e sedutor. Nada podia fazer com que a presença dela fosse tão forte como á vida. E por isso, antes de se despedir do mar, Daniel fez uma promessa pra sua amada:

-Eu quero que saiba que não importa o que aconteça- As lágrimas começavam a percorrer o seu rosto como ondas em dia de tempestade- Você sempre estará imortalizada no meu coração. Pode passar dois mil e um, dois mil e dois, dois mil e três, dois mil e tudo. Pode passar o tempo que for preciso. Você, minha amada, não esquecerei jamais!

De costas para o mar, Daniel andava lentamente pela areia em direção a vida nova que todos sonhavam em ter, menos ele que preferia esquecer.

Todos um dia ficamos chateados com a vida, é normal, somos feitos de carne e osso e sempre estamos propensos a errar, e a vontade de não errar mais é tão grande que chega a nos acalmar, e a perfeição durante toda a existência queremos buscar.

Daniel podia ter todas as mulheres que queria aos seus pés, muito luxo, muito dinheiro, muito amor da família, mas não tinha seu espelho.

Aos poucos ele andava pelo tempo, por outra comemoração de ano novo, por outra amada, por outro casamento, por outra família.

Nada que passou deixava de existir.Com o tempo ele aprendeu a fazer um novo sorriso, e chamar de seu.



3 comentários:

Mari disse...

Eu gostei bastante. Ficou muito bom!
"L'État c'est moi"... rsrs

Raquel disse...

Muito bom, gostei de como o final acaba tomando um rumo inesperado (bom, pelo menos eu achei). Enfim, continue escrevendo, você tem talento!

Guilherme V. Torrano disse...

Obrigado pelos elogios! Você tem razão Raquel, o final acabou tomando um rumo meio inesperado e ao mesmo tempo com um final feliz, coisa que eu não costumo fazer, porém eu gostei do resultado e espero repeti-lo mais vezes!

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